A inflação, a taxa Selic e o seu bolso
20/08/2024

A inflação, a taxa Selic e o seu bolso

Entenda como a taxa básica de juros da economia em 10,50% afeta o custo do crédito e a rentabilidade dos investimentos.

A inflação é o resultado do movimento de oferta e procura de produtos e serviços. Ela é influenciada por uma série de fatores. Um bem importante é o preço de matérias-primas e mercadorias de consumo mundial – as chamadas commodities, como o petróleo e o trigo. A escassez desses produtos, ou até mesmo o risco de escassez, como vimos durante o conflito no Leste europeu, pode elevar o valor desses produtos no mercado internacional, com reflexos no custo de vida dos brasileiros. 

Outro fator está relacionado ao nível de produção interna de determinados itens. Imagine, por exemplo, que a produção de feijão tenha sido muito alta. Os produtores levam o feijão ao mercado para vender, mas as pessoas não conseguem comprar tudo o que é produzido – a oferta é maior do que a procura.

Por isso, sobra feijão e os produtores precisam diminuir o preço. Quando a maioria dos preços cai, a inflação diminui. Ao contrário, quando todo mundo quer comprar algo que está em falta – a procura é maior do que a oferta –, os preços sobem e a inflação aumenta.

Mesmo quando o índice geral da inflação está sob controle, os preços de alguns produtos sobem mais do que outros, devido às oscilações de mercado. Se o preço da carne subir e o do feijão cair, por exemplo, a média geral pode ficar mais baixa, pois a carne não é consumida tão frequentemente quanto o feijão. Mesmo assim, para as famílias que comem carne todos os dias, a sensação é de inflação alta.

Dinâmica dos juros: o que é, para que serve e como a Selic tem evoluído nos últimos anos

Para segurar a inflação e evitar que os preços subam ainda mais, o Banco Central aumenta a Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela serve como referência para as demais taxas de juros que os bancos cobram quando você usa o crédito, como o rotativo do cartão e o cheque especial. 

A oscilação da Selic influencia, assim, o preço dos produtos financeiros. E essa oscilação é bem visível no Brasil. Em 2016, quando a inflação chegou a 10% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic a 14,25%, uma das mais altas da história. Depois, a taxa viveu um período de queda acentuada e, em 2020, atingiu o menor patamar (2%) desde a sua criação.

Em 2021, voltou a subir. Começou o ano em 2%, bateu a casa dos 4,25% em junho e, em outubro, já estava em 7,75%. Em 8 de dezembro, o Copom elevou a taxa para 9,25%. Tudo para conter a demanda de consumo e, assim, controlar a alta da inflação, que fechou o ano em 10,06%, de acordo com a projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Em 2022, foram cinco aumentos na Selic, que passou a 10,75% ao ano em fevereiro, pulou para 11,75% em março e foi elevada a 12,75% em maio. Em junho, chegou a 13,25% e, em agosto, subiu para 13,75%. Com isso, os juros básicos da economia chegaram ao maior patamar dos últimos cinco anos.

Em 2023, a taxa Selic se manteve em 13,75% no primeiro semestre e, em agosto, começou a cair, fechando o ano em 11,75%. Entrou em 2024 em 11,25%, chegou a 10,50% em maio e se manteve assim até agosto. O relatório Focus, do Banco Central, mostra que a expectativa é que esse valor se mantenha até o final do ano. 

Como os juros altos afetam o seu bolso

Os juros altos têm um impacto direto no custo de empréstimos e financiamentos e na rentabilidade de investimentos, por exemplo. Portanto, é importante entender o cenário atual para tomar decisões financeiras acertadas. Entenda mais a seguir.

Crédito mais caro

Juros altos significam, quase sempre, um maior custo nas diferentes linhas de crédito e financiamentos. Com as taxas atuais, se uma pessoa decidisse comprar um celular de R$ 500 no cartão de crédito, entrasse no rotativo e ficasse um ano sem pagar a fatura iria acumular uma dívida de R$ 2.647,50 ao final de 12 meses, considerando uma taxa de juros de 429,5% ao ano (Fonte: Agência Brasil). 

Isso não acontece, contudo, porque em janeiro de 2024 entrou em vigor uma lei que limita os juros do rotativo a 100% do valor da dívida. 

Mas e a inflação?

E se o preço do celular subir? É aí que está o pulo do gato: quando muita gente resolve esperar o preço baixar antes de comprar, ele acaba caindo mesmo. Lembra da lei da oferta e procura? Se tiver muito celular em oferta, só resta aos vendedores reduzir o preço. E com dinheiro no bolso, fica mais fácil para você negociar.

Então, fica a dica…

Pense bem antes de comprar e aproveite as taxas de juros a seu favor, adiando aquelas compras não tão urgentes e investindo o seu dinheiro. Assim ele rende mais e você mantém seu bolso em dia.

A inflação e o preço dos alimentos

Um fator de peso sobre a inflação são os alimentos. O estado de calamidade que o estado do Rio Grande do Sul enfrentou por conta das chuvas, por exemplo, jogou para cima o IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, considerado o índice de inflação oficial do Governo Federal. Em junho de 2024, os preços subiram 0,21% e a previsão é que o acumulado chegue a 4,12% neste ano.

Dentre os alimentos que mais subiram os preços em junho estão a batata-inglesa e o leite longa-vida. Também ficaram mais caros o café moído e o arroz, alimentos importantes das refeições dos brasileiros.

Diante desse cenário, é essencial que as famílias aprendam a planejar suas refeições de forma eficiente e sem desperdícios. 

Entenda: como a inflação mexe com o rendimento dos investimentos

A inflação corrói a remuneração de aplicações financeiras prefixadas, isto é, aquelas cuja taxa de juros é determinada no momento da contratação e não sofre ajustes depois. Isso porque, com a passagem do tempo, os preços também tendem a subir e o custo de vida a aumentar, fazendo com que o poder de compra do dinheiro encolha.

As taxas de juros são expressas em porcentagem. Elas indicam quanto o dinheiro crescerá ao longo do tempo. Por exemplo, suponha que você coloque R$ 1.000 em um investimento que promete pagar 10% depois de um ano. Ao fim desse período, você terá R$ 1.100, isto é, seu dinheiro crescerá exatamente 10%.

O problema é que o poder de compra do dinheiro vai diminuindo ao longo do tempo por causa da inflação. Como consequência, a quantidade de coisas que seus recursos conseguem cobrar se reduz, de modo que o retorno real do investimento é menor do que 10%.

A taxa de 10%, usada no exemplo acima, é a chamada de taxa de juros nominal, e ela compara valores monetários ao longo do tempo. Já a taxa de juros real indica como o poder de compra do dinheiro evolui no tempo. Ela, assim, expurga o efeito da inflação.

Em termos aproximados, a taxa de juros real é igual à taxa de juros nominal menos a taxa de inflação. Note que, se a inflação for maior do que a taxa de juros nominal, a taxa real será negativa. Isto é, o retorno do seu investimento não será suficiente para compensar a inflação. Após um ano, seu dinheiro comprará menos coisas do que inicialmente.

A taxa de juros real é a taxa ex-post, que mede a variação efetiva do poder de compra ao longo do tempo. Para calculá-la utilizamos a taxa de inflação observada no período. O problema é que, quando a aplicação é contratada, o investidor não sabe qual será a inflação no futuro.

Já a taxa de juros real ex-ante leva em conta esse fato, pois baseia-se em medidas de expectativa de inflação. Ela é a taxa de juros nominal menos a taxa de inflação esperada. 

A taxa de juros nominal é a Selic no primeiro dia útil de cada mês, a inflação é a variação do IPCA 12 meses à frente, e a inflação esperada vem do relatório Focus do Banco Central, e reflete opiniões de agentes do mercado financeiro e consultorias econômicas para a inflação nos próximos 12 meses.

Fonte: Meu Bolso em dia – Febraban

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